Literatura
Arthur de Farias lança em Pelotas biografia de Lupicínio Rodrigues
Na narrativa o autor refaz a trajetória do compositor contextualizada com os eventos da época no País, além de analisar letras e melodias do porto-alegrense
André Feltes - Especial - DP - Músico pesquisa sobre Lupi desde a década de 90
O músico, pesquisador e jornalista Arthur de Faria estará em Pelotas na noite desta sexta-feira (14) para o lançamento de Lupicínio: uma biografia musical, o terceiro livro da série produzida pelo autor sobre a música de Porto Alegre. Desta vez o pesquisador apresenta uma aprofundada pesquisa que ele vem fomentando desde a década de 90 sobre a vida e a musicalidade do compositor porto-alegrense autor de sucessos como Felicidade, Nervos de aço e Vingança. A sessão de autógrafos ocorrerá na livraria Vanguarda do Shopping Pelotas, às 19h. O evento ainda contará com um bate-papo com Faria, mediado pelo músico e professor Rafael Velloso.
A trajetória de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), um músico negro de classe média baixa no sul do Brasil é contada no contexto da censura na Era Vargas, do nascimento do samba e da música regional. Em marcos de celebração e esquecimento, a vida e a obra de Lupi se entrelaçam entre os depoimentos de parceiros musicais, amigos e familiares. Na obra Faria faz análises musicais. Segundo o pesquisador, a excelência técnica de Lupicínio ao compor ainda é subvalorizada. "Todo mundo sempre fala das letras, mas falo muito das músicas também e de uma forma que todo mundo possa entender", diz.
Lupicínio fez sozinho a maioria das composições que se conhece. Letra e melodia saiam inteiras de sua verve criativa. Somente os harmônicos ficavam por conta dos companheiros, isto porque o compositor não sabia tocar nenhum instrumento, só uma prosaica caixinha de fósforos. "E isso é o genial. A forma como ele construía as músicas dentro da cabeça dele era extraordinário. Mais de 80% das músicas de Lupicínio não tem parceiros."
As melodias são tão bem pensadas que muitos instrumentistas têm dedicados discos inteiros com composições do porto-alegrense. "Tem vários discos de versões instrumentais das músicas de Lupicínio porque elas são riquíssimas musicalmente, mesmo sem o texto", diz Faria.
Projeção nacional
O gaúcho começou a ter projeção nacional no final dos anos 40 do século 20 e nos anos 50 era um dos três maiores compositores brasileiros ao lado de Dorival Caymmi e Ary Barroso, sem sair de Porto Alegre. "Ele é o mestre maior do samba-canção, quem diz isso não sou eu, que sou gaúcho, é o Zuza Homem de Mello, que era um dos maiores pesquisadores e críticos de música que o Brasil teve. Eu o cito bastante, o Zuza me ajudou bastante no livro."
O fato de suas composições serem gravadas, mesmo depois da sua morte, atesta a relevância da obra, diz Arthur de Faria. "Ele teve um período de esquecimento nos anos 60, que toda a geração dele teve. Surgiu a bossa nova, o rock, a jovem-guarda, as canções de protesto, a tropicália e os festivais. Quando eles começaram a se recuperar, no começo da década de 70, o Lupicínio morreu (em 1974), então ele não chegou a ser recuperado totalmente em vida. Ele viu isso começar, mas a volta, a consagração dele como nos anos 50 foi se dar depois dele morrer", relembra o autor.
Formato de crônica
Para Faria reside na forma como Lupicínio contava as desventuras do amor o seu maior trunfo. "O conteúdo não era tão diferente de tantas outras canções escritas sobre a cornitude, sobre o amor e a perda." No livro o autor dedica um capítulo, intitulado Fenomenologia da Cornitude, para abordar o assunto.
Faria argumenta ainda que as letras do porto-alegrense são como crônicas, o que seria uma forma inteligente de saber usar a linguagem coloquial. "Mas na hora de escrever o português 'correto' ele também faz conforme quem está contando a história e tudo no instinto". Lupicínio estudou em bons colégios em Porto Alegre, mas só até a quarta série, porque com cerca de 12 anos ele começou a se infiltrar na vida boêmia, fazendo com que o pai dele o enviasse para o trabalho.
Lupicínio era um boêmio porto-alegrense que trabalhava durante o dia e à noite se dedicava à música. Profissionalmente, atuou como bedel na Faculdade de Direito da UFRGS e como diretor da Sociedade de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACem), atividades que lhe renderam aposentadoria. Além dessas atividades foi dono de bar, por mais de uma vez. Os direitos autorais lhe renderam uma vida confortável na maturidade.
Para o pesquisador, o que impressiona na trajetória de Lupicínio é o fato de ele ter conseguido contrariar todos os estereótipos de um compositor consagrado no samba. "Ele não era do Rio de Janeiro, não foi morar lá, não era malandro, tinha uma vida muito discreta, era um sujeito muito na dele. E as pequenas surpresas chegam quando tu começa a analisar as canções dele e começa a te dar conta dos grandes achados, por exemplo, ele começar uma canção no meio: 'E aí eu comecei a cometer loucuras'. Elas têm desenhos melódicos muito sofisticados e no instinto, isso que eu acho impressionante."
Serviço
O quê: lançamento do livro Lupicínio: uma biografia musical, e bate-papo com o autor Arthur de Farias
Quando: sexta-feira (14), às 19h
Onde: Livraria Vanguarda, Shopping Pelotas, avenida Ferreira Viana, 1.526
Preço do livro: R$79,90
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário